sábado, 10 de julho de 2010

O Caso de Charles Dexter Ward de H. P. Lovecraft



H. P. Lovecraft (1890-1937) foi um escritor americano cuja obra não possui meio-termo. Todo o conjunto de seu trabalho está marcado pela literatura de terror. Apesar de influenciado por Edgar Alan Poe e Lord Dusany, Lovecraft elabora um universo e mitologias tão particulares e originais que o coloca num patamar diferenciado. Entretanto, em meio a um panteão extremamente original com suas deidades ancestrais, suas narrativas estão repletas de belíssimas descrições de cidades americanas antigas, especialmente Providence, sua cidade por excelência.

Lovecraft elaborou o Mito de Cthulhu através de uma obra perdida, o Necronomicon e seu escritor louco, o árabe Abdul Alhazared. O Necronomicon – livro fictício inventado por Lovecraft, assim como seu escritor louco – era um manual de invocação de demônios. Cthulhu é uma deidade ancestral de eons antiqüíssimos e toda a mitologia lovecraftiana gira em torno deste ser cósmico e o apelo ancestral que os deuses antigos mantêm no universo e que chega até nós.

Apesar de escrever apenas contos curtos, Lovecraft escreveu este pequeno e único romance: O Caso de Charles Dexter Ward. Este pequeno romance margeia toda a mitologia lovecraftiana. O livro principia com a narrativa do desaparecimento de Ward de um hospital particular para doentes mentais. O problema é saber, inicialmente, qual o motivo da loucura dessa “pessoa extraordinariamente singular”. É nesta busca pela origem da loucura que a narrativa se embrenha nos confins do extraordinário que habitava há séculos Providence. Esta origem aterradora se reporta à figura não menos enigmática de Joseph Curwen.

Ele era um “indivíduo extremamente assombroso, enigmático, sombriamente horrível. Ele fugira de Salem para Providence – o abrigo universal dos excêntricos, dos homens livres e dos dissidentes – no início do grande pânico da bruxaria, temendo ser acusado por causa de seus hábitos solitários e de suas curiosas experiências químicas e alquimistas”.

Curwen era um estudioso das ciências ocultas e se debruçava demoradamente sobre obras como o Zohar, a Ars Magna de Lully, o Thesaurus Chemicus de Bacon, a Clavis Alchimiae de Fludd, o De Lapide Philosophico de Tritêmio, entre outras, além do próprio Necronomicon. Em 1760, Curwen era “praticamente um proscrito, suspeito de vagos horrores e demoníacas alianças que pareciam ameaçadoras pelo fato de não poderem ser definidas, compreendidas ou mesmo comprovadas”.

Algumas incursões foram feitas na casa de Curwen para descobrir o que aquele estranho senhor sabia sobre o mundo oculto. Mas todos voltavam transtornados de suas peregrinações e foi esse o motivo da busca de Charles Ward: conhecer o desconhecido, aquilo que apenas o velho Curwen havia presenciado e que virara boato na cidade.

Ward descobre manuscritos de Curwen, principalmente uma biografia das suas viagens e descobertas. Ele se prepara para excursionar nos locais indicados por Curwen e retorna a Providence: “percorreu as longas milhas até Providence de ônibus, embebendo-se avidamente da visão das onduladas colinas verdejantes dos fragrantes pomares em flor e das brancas cidadezinhas com campanário do Connecticut primaveril [...] Quando o ônibus atravessou o Pawcatuck e entrou em Rhode Island no ar dourado e irreal de uma tarde de fim de primavera, seu coração batia com mais força e o ingresso em Providence, pelas avenidas Roservoir e Elmwood, foi uma coisa maravilhosa”. Mas é neste retorno que o jovem Ward encontrará o que deveria permanecer desconhecido – neste encontro, onde o absurdo se pronuncia com inegável poder e terror, a mente vacila e a loucura se instaura.



.

Nenhum comentário:

Postar um comentário